segunda-feira, 30 de setembro de 2019

#6 Ninguém Pode Saber, Karin Slaughter


Quem não tem cão caça com gato, já dizia o ditado. Já que Gillian Flynn não lança nada novo desde O Adulto, de 2014, eu leio Karin Slaughter, que muitos acham parecida com a primeira. Cada uma tem suas particularidades. Acho que as personagens de Gillian tem mais consistência, mas Karin sabe criar umas histórias bem intrincadas também. Eu quase não conseguia parar de ler esse Ninguém Pode Saber, com suas mais de 400 páginas.
De cara você saca que tem algo muito misterioso com Laura Oliver, mulher na casa dos 50 anos que, pela forma com que dominou e matou (isso nem é spoiler) um assaltante no restaurante em que almoçava com a filha de 31 anos, Andrea, suscita as mais variadas especulações sobre seu passado.
Devido a um desdobramento desse acontecimento, Andrea sai em busca de pistas sobre quem é sua mãe. O título original (Pieces of Her, pedaços dela, em português) é muito eficaz, pois dá uma ideia do que é que Andrea vai obtendo ao longo de sua saga, até conseguir montar o quebra-cabeças.
Andrea é muito ingênua para várias coisas. Será que uma mulher de 30 e poucos cometeria alguns deslizes como ela cometeu? Laura, a gente acaba vendo, mudou muito sua personalidade ao longo dos anos. As coisas pelas quais ela passou justificam, até. É mais verossímil.
De qualquer forma, é uma ótima diversão! Mas sigo torcendo para Gillian Flynn nos brindar com um novo romance.
Ficha técnica
Editora: HarperCollins
Ano: 2018
Título original: Pieces of Her
Tradutor: Alexandre Martins
Páginas: 416

segunda-feira, 23 de setembro de 2019

#5 A Vida Secreta da Mente, Mariano Sigman


Ideal para quem é leigo, mas tem um pouco de interesse pela forma como surgem os pensamentos, como fazemos escolhas e como o inconsciente dirige nossa vida. Neste livro, o neurocientista argentino radicado na Espanha Mariano Sigman aborda essas questões e outras, inclusive sobre o desenvolvimento das crianças (especialmente o desenvolvimento da linguagem), o que também me encanta, porque trabalho também com educação.
Há uma certa quantidade de teoria no livro, sim, mas quem não é do ramo consegue passar por ela sem se deixar abater e pode seguir em frente, pois o que se aprende ou as curiosidades que desperta compensam.

segunda-feira, 16 de setembro de 2019

#4 A Besta Humana, Émile Zola


Este ano me propus a ler mais clássicos, porque normalmente leio umas coisas um pouco fora da curva. Este foi um deles. Eu sempre gostei muito da literatura francesa, especialmente do realismo/naturalismo (não só na França, nesse caso), e essa edição da Editora Zahar (sem querer fazer propaganda) é linda de viver!!!! Capa dura, papel reading-friendly, apresentação escrita pelo tradutor Jorge Bastos que acrescenta muito à experiência de leitura, mais de 80 notas ao longo do livro (tem quem não goste, mas eu amo, desde que sejam na própria página e não no fim do livro; ninguém merece ter que ficar indo e vindo) e cronologia da vida e obra de Zola. Portanto, mais que me empolguei. E valeu cada minuto da leitura.
“A Besta Humana” foi publicado originalmente em 1890 e faz parte de um projeto literário de Zola chamado “Os Rougon-Macquart: história natural e social de uma família sob o segundo império”. Ele achava que sua obra era mais científica que a de Balzac, por exemplo, que por meio do recorte de uma família fosse descrever a sociedade da época.
O membro da família Rougon-Macquart aqui é Jacques Lantier, maquinista na linha de trem que liga Paris à portuária cidade de Le Havre, no norte da França, cuja ruptura de caráter é a violência contra as mulheres.
Além do viés psicológico da trama, o fascínio que as locomotivas exerciam no final do século XIX transborda pelas páginas, a ponto de a locomotiva que ele conduzia ter nome, Lison, e ser considerada até uma personagem no livro. O romance também pode ser lido como uma crítica ao exagero industrial. Mas o que sobressalta é a qualidade literária, como conta a história, como cria os personagens e amalgama tudo isso em algo que sobrevive à passagem do tempo.
Ficha técnica
Editora: Zahar
Tradução: Jorge Bastos
Ano: 2014
Páginas: 367


segunda-feira, 9 de setembro de 2019

#4 Atenção Plena, Mark Williams e Danny Penman


Tentando aproveitar um pouco melhor meu tempo dedicando mais foco a cada coisa que estiver fazendo, me interessei por ler este Atenção Plena. Além de ter um CD que guia todos seus passos na meditação, o texto em si traz muitas dicas para trazer o leitor para o tempo presente, como prestar atenção nos detalhes que o cerca, desligar do piloto automático, não deixar que uma avalanche de sentimentos ruins tome conta de um momento de tristeza e como não depender de elementos externos para encontrar a felicidade e o equilíbrio.
Difícil? Bastante. Utópico? Talvez, não. Como diz no prefácio: “... a atenção plena é, na verdade, uma prática. É um estilo de vida, e não apenas uma boa ideia, uma técnica inteligente, uma moda passageira.”
Eu absorvi a lição e pratico direitinho? Claaaaaro que não. Mas já dei um primeiro passo. Deve-se insistir e persistir. Pelo menos já aprendi a respirar para controlar a ansiedade quando acordo no meio da noite e perco o sono! 
Ficha técnica
Editora: Sextante
Tradução: Ivo Korytowski
Ano: 2011
Páginas: 207

segunda-feira, 2 de setembro de 2019

#3 O Sentido de um Fim, Julian Barnes


Um dos livros mais impactantes, ambíguos, interessantes, inesquecíveis que já li. Talvez se possa dizer que é sobre o tempo e a memória (acredito que esses dois aspectos são mesmo muito presentes no enredo), mas será? Tudo é tão relativo e passível de credibilidade. O narrador, Tony Webster, já se mostra não-confiável desde o início, quando afirma que “o que você acaba lembrando nem sempre é o que viu”. Ele conta sobre suas amizades, seus relacionamentos, as tragédias que aconteceram com alguns, mas sempre com a ressalva de que o que fala pode não ser exatamente a verdade.
            Também é um livro que me fez pensar na minha própria vida e trajetória, na imagem que criei de mim mesma, na imagem de mim que quero passar, passo e passei para os outros até aqui, nas escolhas que fiz e faço. Que mais elas trarão?
            Ao final, com relação à história narrada, você já não tem certeza de nada e acho que era pra ser assim mesmo. Mas não se sai incólume dessa leitura.
Ficha Técnica
Editora: Rocco
Título original: The Sense of an Ending
Tradutora: Léa Viveiros de Castro
Ano:2011

Voltando à ativa

Quando o ano começou e escrevi minha retrospectiva literária de 2018 com desejos para 2019, uma das minhas "metas" era continuar escrevendo sobre livros, não importando se fosse neste blog ou em qualquer lugar. No entanto, a vida como ela estava foi me cansando e acabou que escrevi apenas duas resenhas neste ano e abandonei isso aqui.
Muita água rolou por debaixo da ponte (saí do emprego, fiz e estou fazendo cursos no meio editorial, estou redirecionando minha vida profissional). Numa espécie de período sabático que acabei me dando, fiquei bastante tempo só lendo, lendo muito, mas sem ter a obrigação de escrever nada sobre o que lia.
Semana passada, porém, fui meio que incentivada pelo comentário de uma amiga e pensei: "Por que não estou escrevendo sobre os livros que leio, se isso é uma das coisas que mais me movem ou mais me estimulam?"
Pois que agora tento retomar o trabalho aqui. De novo: mesmo que seja só por mim mesma e menos de meia dúzia de gatos pingados. Tem muita coisa acumulada. Bem mais do que na foto aí.
No próximo post, o livro que reabre as escritas nesse espaço.
Se tiver quem quiser seguir comigo, vamos nessa!

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2019

#2 O Coração é um Caçador Solitário, Carson McCullers


Ah, esse livro. Começa pelo título. Eu nunca tinha ouvido falar dele, mas quando vi esse título pensei: “Que poético! Deve ser lindo!”. E é. Há que se reconhecer que a ideia para o nome do livro não foi da autora, mas da editora do livro. Carson McCullers queria chamá-lo O Mudo, referência a um dos personagens centrais da história (também sabemos que não existe a condição de mudo por si só; se a pessoa não fala é porque não ouve).
Bem, a história se passa no período entre a Grande Depressão e a Primeira Guerra Mundial numa cidade no sul dos Estados Unidos ainda muito marcada pelo preconceito racial e sofrendo com a crise socioeconômica. Cinco personagens principais vão sendo apresentados: John Singer (o mudo), Mick Kelly (garota de 12 anos, filha do dono da casa  em que alguns personagens alugam quartos e onde muitas cenas se desenrolam), Dr. Copeland (médico, homem negro que segue sua missão, seu propósito ao atender a população negra e acaba ele mesmo descuidando de sua saúde), Jake Blount (morador que parece estar de passagem, cheio de mensagens de cunho marxista) e Bill Brannon (dono do bar e restaurante em que muitos personagens bebem e comem e que também é palco de muitos acontecimentos dessa história).
O livro trata de alguns temas:
Solidão: ao mesmo tempo que há bastantes acontecimentos na história e interação entre os personagens, os cinco principais são extremamente solitários e parecem viver uma história à parte. Como diz Mick, eles vivem muito no mundo de dentro (o mundo dos seus próprios pensamentos) e só vivem o mundo de fora quando algo que acontece ali os afeta ou eles tem que agir sobre isso.
Ponto de vista: cada um dos cinco personagens principais tem suas teorias sobre a vida, sobre o mundo, sobre o amor, os relacionamentos, sua missão e isso fica evidente nos monólogos internos. Não necessariamente, os pontos de vista deles convergem, ao contrário.
Comunicação/O Mudo: Singer é figura central dessa história. Ele se comunica pela língua de sinais, mas seu outro amigo surdo-mudo, o grego Antonapoulos, acaba internado em uma casa para pessoas com distúrbios psiquiátricos. Ele lê lábios e escreve bilhetes para se comunicar com outros personagens, mas na maioria das vezes apenas ouve. Como ele se expressa pouco, os outros personagens todos recorrem a ela para contar suas lamúrias, pois ele é quem vai ouvir e pouco ou nada criticar ou debater. Ou seja, é uma forma de validação da visão de mundo de cada um. Eles também consideram Singer a melhor pessoa, que compartilha das mesmas ideias, o melhor amigo, enquanto Singer tem opiniões um pouco diferentes dos seus colegas. Acaba se mostrando bastante crítico de suas atitudes. Seu verdadeiro amigo é o grego.
Talvez a mensagem central seja de que é possível conviver e coexistir mesmo tendo opiniões tão contrárias sobre certas coisas; que a busca da unanimidade de opiniões seja completamente desnecessária e que a vida é um eterno exercício de tolerância, mas que isso também não deveria ser tão difícil ou doloroso. Deveria ser normal.
Os menos sensíveis ou menos atentos, digamos, dirão que o livro é sobre nada em especial, mas é aí que se enganam.